segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Esfriou o café

Eu havia fechado meu coração pela milésima vez antes dele chegar.
Havia construído uma barreira contra "surtos psicológicos" causados por amores não correspondidos. 
Eu havia dito a mim mesma que não iria, e que não seria possível, me apaixonar por alguém de novo. 
Não estava disposta, nem apta, muito menos preparada para deixar alguém entrar na minha vida e derrubar toda essa muralha que construí em volta de mim. Não estava disposta a permitir que alguém descobrisse mais do que meu nome, minhas músicas preferidas, e a minha paixão por sorvete de baunilha. Não queria dar espaço, nem deixar entrar. Não queria mais ninguém para dividir um copo de coca ou o último pedaço de pizza. Não queria ninguém palpitando sobre as minhas escolhas e me ajudando a superar a barra de todos os dias.

Não estava disposta, nem preparada para muita coisa, até ele aparecer na minha vida e causar esse turbilhão de reviravoltas que causou.

Eu não sou daquelas que se apaixona a primeira vista. Não mais. Já fui, mas era adolescência, e naquela época, nada fazia muito sentido.
Jamais pensei que me apaixonaria a primeira vista por alguém. Mas me apaixonei. Me apaixonei por ele desde a primeira vez que vi seus olhos e seu rosto cheio de pintinhas. Me apaixonei quando ele disse a primeira palavra da noite. Me apaixonei pela primeira conversa que tivemos, e por todas as outras mais que vieram a seguir.
Foi difícil não se apegar, mas, é como dizem: "Quando a gente se apaixona, fica frágil, fácil de se entregar.".
Depois de tanto e tanto tempo fechando portas para novos amores, deixei que ele entrasse pela porta da frente. E quando vi, ele já tinha entrado e tinha puxado uma cadeira e parecia que ia ficar aqui por um longo tempo.
Parecia, apenas, pois não ficou.

Era um sábado chuvoso e frio quando ele se foi. Ele se foi e levou consigo boa parte de meus sorrisos, depois de ter causado milhares de sorrisos espontâneos em mim. Ele se foi, e levou uma boa parte de mim com ele: ninguém não me conheceu tão bem quanto ele. Ou ao menos posso dizer que deixei que ele soubesse o máximo de mim, a começar pelo meu doce favorito, e minha cor preferida, e até mesmo os meus planos para o futuro. Deixei que ele entrasse e fizesse o que quisesse aqui. E estava disposta a não deixá-lo partir tão cedo.

"Coloquei o café na mesa e fiz um bolo". Estava tudo tão bem e a conversa parecia fluir em uma harmonia diferente de todas as outras anteriores. Mas o café esfriou, e todo mundo sabe o que acontece quando o café esfria: A gente o joga fora.
E jogou.
Não era como uma sopa, que dá pra você esquentar e esquentar. Foi tudo como café. "Esfriou? Joga fora."
Em um mundo de amizades rápidas e conexões passageiras, aplicativos lotados de mensagens e pessoas tão vazias e sem vontade de se compromissar, não é de se espantar quando um amor acaba cedo. 
Não mesmo!

Amor para mim é como uma flor: Você precisa cultivar todos os dias, regar, cuidar. Se você não fizer isso, ela morre.
Ou pode ser também como café: Se você não souber aproveitar, ele esfria, e só resta jogar fora.

Meu Deus. Como as pessoas jogam fora um amor, não é mesmo? 
Não sei se sou eu quem erra ao tentar insistir em algo que, ao meu ver, vale a pena, ou se a outra pessoa acha que não vale a pena e por isso não insiste.

Acho que, de fato, é os dois.
As pessoas mudam quando se distanciam.
Inclusive eu.

É difícil quando você escolhe (e principalmente quando não escolhe, mas precisa) ficar longe da pessoa que gosta. A falta de contato, seja ele físico ou visual, a falta de tempo para ficar junto e os encontros escassos tornam-se os maiores vilões. Outras pessoas podem surgir, e o interesse mútuo pelo outro acaba por desaparecer aos poucos.

Aconteceu isso.

O interesse dele foi se esvaziando, esvaziando, indo e esfriando, até que acabou.
Acabou e precisou ser jogado fora.

Comecei a deletar minha playlist com as músicas favoritas que havia colocado no mesmo pen drive, o qual usava todos os dias, inclusive quando ia buscá-lo para sairmos. Não foi fácil me desfazer disso, mas foi preciso. Tive um déjà vu dias desses e me recordei de algumas conversas que tivemos. Meu Deus. Parecia que ia ser tão legal e que não iria esfriar tão cedo.

Ele me causou borboletas as quais ninguém antes tinha causado. Na verdade, não na mesma intensidade Ele me causou frio na barriga e um arrepio que só ele sabia fazer.
Não sei se fui idiota, ou precipitada, ou delinquente, ou apenas inocente, mas eu realmente achei que poderia ser amor.
Mas foi.
Ou será que não foi?
Talvez tenha sido amor, ou apenas coisa da minha cabeça. Talvez tenha sido paixão, e talvez "Eu te amo" não deveriam ter sido ditos.
Mas pensar nisso agora já nem faz mais sentido.
Que seja. 

Mas o café esfriou e ele jogou fora, ao invés de fazer um novo.
E sabe, tudo bem. 
Ok. Não está tudo bem, mas vai ficar.

Nunca é fácil se "recuperar" de um amor não mais correspondido, mas o que não entendo é porque continuo a insistir em sofrer por algo que não vale a pena.

Um amigo me disse que adoraria ser como eu: superar tão bem um amor.
Adoraria dizer pra ele que só eu sei o quanto dói e o quanto sinto falta dele, e o quanto é ruim não estar junto, e como é depressivo o jeito que a saudade "bate na porta". 
Mas, se ele acha que eu supero bem, deixarei assim. Quem sabe não sirvo de " inspiração" para alguém? "Nossa! Eu queria ser como ela!". 
Só risos.

Seria clichê demais dizer que meu coração está, ainda, em pedaços e que estou juntando parte por parte, como fiz há um tempo atrás? Seria clichê demais dizer que todas aquelas borboletas que ele me causou no estômago estão começando a morrer, mesmo que aos poucos? Adoraria jogar um veneno aqui dentro e acabar logo com essa merda toda, mas não tem como. Adoraria apagar essa partezinha vivida na vida, e esquecer de tudo, mas foi tudo tão bom, que não tem como fazer isso. Não sei se é uma pena, ou se é uma maravilha.

Mas que dói... Ah se dói lembrar de tudo.

Não sei porque ainda sofro com isso, sendo que ele não está sofrendo, muito menos se importando com isso. Para ele já deve ter sido lacrado no passado e tchau, mas não entendo como eu posso ser tão idiota de ficar lembrando e relembrando. Talvez porque não seja minha culpa, mas sim da minha cabeça, que insiste em encontrar respostas onde não existe.
É difícil, mas preciso assumir que meu chocolate era mais quente do que ele.

O café esfriou, e acho que já está na hora de jogá-lo fora.

Aos poucos vou deixando ele cair na pia e ir ralo à baixo. Aos poucos. Mas uma hora a cafeteira vai esvaziar e a única coisa que me restará será lavar a louça e deixar ela lá, secando, pronta para fazer um novo café, abrir a porta e deixar uma nova visita entrar.
Só espero que dessa vez ela esteja disposta a ficar.

posted from Bloggeroid
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