segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Tradições


Que triste pensar que o passar dos anos causam um certo desconforto e desapego  às tradições em algumas famílias.
A cada ano que se passa, sinto que minha família perde, cada vez mais, os laços e as tradições que vinhamos mantendo ao longo dos anos. Os almoços em família em dias como Sexta-Feira Santa, Páscoa, até mesmo Natal e Ano Novo, tornaram-se cada vez mais escassos. Aniversários também. 
Já me esqueci quando foi a última vez que tivemos a sala cheia de pessoas, como os avós, tios, noras e genros, primos e netos.
É como se a morte do patriarca tivesse sido culminante para que esta separação ocorresse.
Uma pena.
Uma pena...

Saudade de quando os lugares à mesa não eram o suficiente para comportar todas as pessoas do ambiente, tendo que se estender para a copa, sala, ou até mesmo para a varanda. 
Saudade dos almoços em que a Bacalhoada era o prato principal, e todos formavam até fila para repetir. Saudade das vezes em que a Farofa de Moela de Frango estava ali na mesa, mas quase ninguém a tocava, mas ela sempre presente... O Manjar de Coco como sobremesa, ou sorvete de Flocos, e até mesmo bolo de pote da tia
Que saudade.
Saudade de quando era uma tradição e um prazer estar junto, sem luxo, sem fartura, mas juntos, celebrando um momento, a família, a união, o amor.
Saudade de fazer sempre as mesmas coisas nas mesmas datas desde sempre.
Mas, o tempo passa, e ele é cruel.
Cruel demais com as pessoas, seja com quem vai, ou com quem fica sobrevivendo por aqui.

Este ano foi, de veras, um ano de extremos. 
Muitos extremos.

Em um intervalo de cinco meses, nossa família - dos dois lados - vivenciou dois sentimentos completamente distintos e diferentes: a alegria e a tristeza; o nascimento e a morte.
Nasceu Lia. Morreu Lígia.
Setenta e três anos de diferença. 
Uma se foi com uma bagagem de vida admirável, deixando lembranças e tradições que foram vividas, escritas e fotografadas ao longo dos anos. 
A outra, veio, mas não trouxe nada. Sem nenhuma vivência, sem nenhuma lembrança ou tradição. 
Ela veio pronta para ser moldada, mas, será que será moldada para que um dia siga as tradições que ninguém mais parece seguir?

Eu, sempre tão animada e empolgada com o Natal, este ano me desanimei. A doença de vovó foi um baque, e eu senti. Mas, me mantive firme na tradição natalina.
Enquanto todos já comiam em casa, me mantive forte, segura e convicta de que não era assim que deveria ser, ao menos para mim. Esperei o relógio apontar 23:58, e iniciei uma oração, obrigando todo mundo a dar as mãos, fechar seus olhos, e orar, ou refletir, meditar, ficar em silêncio, ou seja lá o que cada um fez, mas a oração foi feita, assim como os agradecimentos e louvor à Jesus, seu nascimento e seu sacrifício por nós.
Meia noite, abraços, beijos e felicitações trocadas, e então pude cear com o coração leve.
Ufa! Cumpri a tradição!
Ano Novo? Sabia que após latas e mais latas de cerveja, ninguém toparia fechar os olhos e agradecer a Deus pelo ano que se passou, e pedir misericórdia pelo ano que está iniciando. Então, decidi me retirar, pra fazer minha oração, mesmo que sozinha.
Afinal, este ano foi só pela misericórdia de Cristo.

Nem todas as "nossas tradições" foram mantidas, mas espero que consiga manter a chama acesa, ao menos em mim, tentando manter as tradições vivas, resgatando lembranças do passado e mantendo as esperanças de continuar, mesmo com o passar dos anos, as perdas e ausências, a essência do bem mais precioso: a união familiar.
E o amor de Jesus Cristo, suas palavras, e sua misericórdia em nossas vidas.


Doce e feliz 2018! Que seja cheio de tradições e recordações! 



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