sábado, 4 de agosto de 2018

Por inteira


Às vezes, quase sempre, dá saudade.
Saudade de pisar na grama, sem medo de grudar um carrapato no corpo. Saudade de sentir o vento no rosto, e queimar debaixo do Sol.
Saudade de sentir a água tocando os pés, e eles ficando carregados de areia, ou só terra mesmo.
Saudade de sentir o chão sob meus pés, e o mundo na minha frente.
Dá vontade de sair correndo.
Mas, nem sempre dá...

Como gosto de me aproximar da natureza.
Me sinto livre, leve.
Me sinto Bióloga de novo.
Me sinto eu.

Eu por inteira. 
Eu com todas as partes de mim, todos os meus pedaços, todos os meus retalhos e cacos que foram se juntando ao longo dos anos, amostra todas as feridas e arranhões, e até mesmo cicatrizes que apareceram, e nunca mais se foram.
Eu, ainda criança, assistindo desenho nas manhãs de domingo deitada no sofá da sala, pensando que daqui alguns anos nada disso mais acontecerá, afinal, a gente cresce, vira adulto, e uma hora ou outra tem que sair da casa dos pais, e quando isso acontece, acho que a gente perde um pouco do direito de ser e se sentir criança, afinal, criança não paga aluguel, nem faz compras, ou se preocupa com os gastos da energia e da água no fim do mês.

Por que será que a gente tem que crescer?
Por que será que não dá pra parar e ficar numa fase da vida pro resto da vida?
Por que a vida passa tão rápido assim, e a gente só se dá conta quando ela já passou um tanto bom?
Por que a gente simplesmente não consegue mais viver como antes, nem que por um dia?
Por que é tão difícil aparecer na porta do quarto dos pais, com um travesseiro, e pedir colo, abraço e amor?

Por que a vida tem de ser tão dura assim?

Não sei.
Não sei e provavelmente nunca hei de entender.

Sinto que alguém abriu a porteira para os pensamentos tristes, e minha cabeça simplesmente não consegue parar de pensar em como o tempo anda passando rápido demais, e como eu me sinto aqui, trancada na minha bolha, por mais que não esteja trancada.

Por que a vida tem de ser tão dura assim?

Saudade. 
Saudade de me sentir, assim, eu, por inteira. 
Ainda que adulta, mas sempre eu, criança, por inteira.



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