terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Adeus, Sandy

Alguns infinitos poderiam ser realmente infinitos.
Alguns imortais poderiam ser realmente imortais.
Ah, quem dera se algumas coisas e pessoas durassem para sempre. Ah, quem dera se pudéssemos levar conosco até o fim de nossas vidas, pessoas e animais que amamos...


Uma vez li, e ouvi, que animais vivem menos pois a missão deles é nos amar, e não estudar, ganhar dinheiro, ter uma casa e um carro.
Animais são puros, e seus corações são tão puros quanto sua alma. Animais são lindos, e amam, mesmo quando não amados.
Dizem que um animal não possui alma, e talvez isso até seja verdade, mas quem poderá afirmar se isso é ou não real? Dizem que um animal não possui sentimento. Mas, ora! Se aquilo não é sentimento, então qual nome damos quando eles vêm em nossa direção, nos lambendo e abraçando, ficando ao nosso lado quando estamos doentes e solitários?

Dizem que o melhor amigo do homem é o cão.
Meu melhor amigo não. Meu melhor amigo é um gato. Ou melhor, gata.

29 de Junho de 1999. Provavelmente uma fria madrugada de Inverno, pois lembro-me de estar coberta da cabeça aos pés com um cobertor azul e grosso, que aliás, tenho até hoje.

Era 29 de Junho quando Ianca, a gata siamesa da minha mãe, resolveu parir seus filhotes em minha cama, nos vãos de minha pernas. Lembro que acordei assustada e Ianca estava mais assustada ainda, me olhando com medo, talvez de apanhar.

Na manhã seguinte, ela já estava na sua casinha com seus gatinhos, todos lindos.
E com o tempo, eles foram crescendo.
Foram crescendo, abrindo seus olhos, caminhando e sendo gatinhos.

E foi aí que ela entrou para a minha vida.

Uma gatinha coloridinha, gordinha, fofinha, que sempre ficava perto de mim quando eu sentava no chão para brincar com eles. Eu poderia levantar, sair de perto, ou tentar afastá-la de mim, mas ela permanecia lá, sempre perto.
Talvez naquele momento Deus tenha a escolhido para ser minha.
Ele sempre sabe o que faz.
E quando dei por mim, ela já estava em meus braços, e eu implorando aos meus pais para ficarmos com ela. E ficamos. 
A chamei de Sandy, e para ficar mais "bonito", ela seria chamada de Sandy Helena. Sandy, que "significa" mulher protetora, mas que também "significa" arenosa, em Inglês. Talvez seja por isso que ela gostava tanto de areia, terra e árvore.

Sandy e eu criamos um laço forte de amizade. Laço esse que nunca foi desfeito, e nunca será. Sandy era, e sempre foi, minha melhor amiga, apesar de nunca ter proferido uma só palavra. Sandy nunca me disse nada, mas eu sabia que ela me compreendia. Sandy sabia quando eu estava feliz, ou quando eu estava triste. 
Ela sabia quando eu estava com dor, ou quando eu estava querendo somente uma companhia. Sandy me salvou da depressão, ou daquele dark year que tive na vida, em 2009. Sandy esteve do meu lado, e sei que sempre estará.

Ela adorava sair, e em uma dessas saídas, ela sumiu. Sumiu e demorou para voltar pra casa. Tive febre, tive insônia e chorava aos prantos. Mas ela reapareceu. Reapareceu e nunca mais fez essa graça de sair de casa e não voltar mais. 
Sandy uma vez engravidou, e seus filhotes morreram em seu interior. Foi triste, mas tivemos que castrá-la. Conseguimos correr a tempo, antes que ela pudesse morrer. Graças a Deus.

Sandy, principalmente nesses últimos anos, desde quando ficou cega, se aproximou demais de mim. Ficamos juntas sempre que podíamos, pois a rotina de trabalhar o dia todo e estudar a noite nos afastou um pouco. Eu ia para o banheiro, e lá estava Sandy. Eu ia para o quarto, e lá ela estava também. Eu saía, e ela me esperava. Meus pais diziam que ela chorava sempre que eu ia para a aula. Saudades, talvez.
Eu também ficava com saudade dela.

Mimei aquela gata ao extremo, e talvez até demais para uma gata.
Comprava coleira, roupinhas e até fazia "ensaios fotográficos" temáticos. Era um amor incrível.

Sandy foi o amor da minha vida e fiz questão de não me esquecer disso nunca. Minha maior prova de amor, para que eu nunca me esqueça dela (como se fosse possível), foi em Janeiro de 2010, tatuar um gato no meu pescoço e pintá-lo com as cores dela: preto, amarelo e laranja.

Aliás, Sandy era linda. Linda e amável. Impossível não gostar de uma gata tão linda.

Sandy tinha quinze anos. Quinze bem vividos e amados anos.
Mas então chegou o dia de hoje.

Era dia 1 de Dezembro, quando Sandy amanheceu gripada. Não comia, não bebia e não dormia direito. Nós a levamos ela ao veterinário, mas ela não melhorou. Aplicamos injeções, remédios, soros, vitaminas, e Sandy não apresentava melhoras. E assim estendeu-se pela semana inteira.
Era sábado, quando a peguei no colo e fui caminhar com ela pelo jardim de casa. Sandy estava realmente mal. Eu não conseguia olhar em seus olhos sem sentir uma parte de mim levando punhaladas. Eu não conseguia olhar para Sandy e não chorar. Era como se ela fosse areia nas minhas mãos, e estivesse escorrendo. Por mais que eu tentasse, sabia que jamais poderia aguentar ela por muito tempo em minhas mãos.
O Sol batendo em nós, e eu apenas chorava. Pedi aos Céus, e a Deus, que cuidassem dela. Pedi forças e coração para aceitar que era chegado o momento. Sandy, que enterrou tantos animais e pessoas da minha família, agora seria enterrada.
"- Mas você não pode entregar! Você tem que acreditar!" - dizia minha mãe. Eu acredito em Deus e acredito em milagres, mas aquele não era o momento. Senti em meu coração que ela estava indo embora. Era chegado o momento de nos separarmos, pois Sandy já havia cumprido sua missão na terra, e sua missão era me amar, e ser amada.
Perdi perdão aos Céus e implorei por perdão a Deus, mas orei pedindo para que ela fosse levada. Não aguentava ver seu sofrimento. Era demais para mim.

Domingo passei o dia inteiro ao seu lado, chorando e cuidando dela, mas talvez em vão. Fui a Igreja, e não parava de chorar por um minuto. Ao chegarmos em casa, ela foi internada no veterinário. Ele me disse que faria o possível e impossível para salvá-la. 
Eu tinha esperanças. Lá no fundo do meu coração. Mas tinha.

Segunda-feira Sandy não apresentou muitas melhoras. E na terça-feira, ela piorou.

Sandy teve convulsões. Sandy estava sofrendo, e algo precisava ser feito. Fiquei entre a cruz e a espada, sem reação, mas sabia o que era necessário fazer algo. Pedi, novamente, incessantemente, perdão a Deus, mas ela precisava ser sacrificada. Aos prantos, orei pedindo para que Deus a levasse, pois não queria ser a responsável pela morte dela. Eu a vi nascer. Eu não aguentaria, jamais, ter que tirar a vida de um ser vivo que só me deu alegria.

E Deus me ouviu.

Sandy teve uma segunda convulsão, e faleceu.
Sandy faleceu e não pude me despedir. Sandy se foi, e eu não pude vê-la por uma última vez. Sandy se foi. E uma parte de mim também.
Sandy se foi em um dia de Primavera, e não foi dormindo, como eu esperava que minha dorminhoca morresse. 
Sandy morreu sofrendo. Sandy se foi.

Só Deus sabe o quanto sofri e o quanto chorei. O dia simplesmente acabou para mim. Não conseguia rir, não conseguia falar. Só conseguia sentir saudades e chorar.

Aproveitei ao máximo a vida ao lado da Sandy, e sinto que ela aproveitou comigo também.
Gostaria de poder prolongar seus dias na Terra comigo, mas não pude.
Agora Sandy está lá, junto ao Pai, e sei que ela está bem. Sei que ela estará olhando por mim, e me dando forças para continuar. Sei que ela estará ao meu lado quando eu me formar na faculdade ano que vem, e quando eu for viajar, quando for construir uma casa, ou uma família.

Sei que Sandy estará ao meu lado. Aliás, quem sempre esteve, sempre estará.

Uma vez me disseram que no céu tem um lugar especial guardado para nossos bichinhos de estimação. E eu realmente acredito que isto seja verdade.


 
 


Descanse em paz, minha querida Sandy. 
Sentirei saudades. 
Te amo, e sempre te amarei. ♥

✰ 29/06/1999      ✞ 09/12/2014

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