sábado, 17 de outubro de 2015

à la Julieta


Uma vez, em um consultório médico esperando ser atendida, vi uma senhora e uma jovem grávida conversando sobre casamento, amor e filhos. Ela disse à moça que quando mais nova era apaixonada por um rapaz, mas nunca havia tido coragem de dizer à ele o que sentia. Ele tinha uma namorada, e aquele era o principal motivo que a impedia. "Ele largaria dela para ficar comigo?".
Essa era a sua maior dúvida, e também seu maior medo. "Ele tem alguém."

Ela disse que passou anos da sua vida apenas trocando olhares e sorrisos com o homem que ela gostava. Trocando olhares enquanto imaginava os dois subindo no altar, comprando uma casa legal e escolhendo os nomes dos filhos.
E ela nem ao menos sabia seu nome.
Passou anos de sua vida perdendo o sono por um rapaz desconhecido, que poderia estar deitado ao seu lado da cama, enquanto, na verdade, ele estava em outra cama e com outro alguém.
"Mas ele tinha alguém!" - E se tinha alguém, por que olhava? 
Ela nunca disse nada à ele durante todos esses anos de paixão. Mas aí um dia ela resolveu dizer, mas, quando deu por si, era tarde. Ele havia se casado. 
Parece bem mentira, e eu adoraria que fosse, mas não era. Não parecia ser mentira estampado nos olhos daquela mulher. Parecia ser real. Parecia verdade, misturado com um sentimento de arrependimento. "Deveria ter dito."

Dias desses estava pensando sobre isso. 
Eu também gosto de uma pessoa, e não sei se posso contar. 
Eu também gosto de uma pessoa, que gosta de outra, e está com ela. Eu também troco sorrisos e olhares com alguém que divide a cama com outro. Eu também imagino uma praia com um sol escaldante e nós dois sentados na areia, sem pressa de voltar pra casa. Seria errado isso?
Será que é errado gostar de alguém que já tem alguém? 
Será que é errado ter alguém e olhar para outra pessoa?


Sabe, minha mãe sempre me disse que olhar não arranca pedaços. Sorrisos também não? 
Sinto-me extremamente culpada por ter alimentado sentimentos por uma pessoa como essa. É como se eu estivesse desfazendo um laço que estava amarrado, ou estivesse entrando no meio de duas coisas, e querendo ter meu espaço onde não tem possibilidades. 
Sinto-me péssima cada vez que lembro disso, mas infelizmente não consigo evitar. É praticamente impossível evitar olhares ou não sorrir de volta quando vejo o sorriso bonito dele em minha direção.
É impossível não sorrir do nada quando lembro-me do seu olhar sobre mim, e penso em todo o mistério que gira em torno disso. Porque, eu tô praticamente na mesma situação daquela senhora do consultório, só mudando apenas o meu nome, a idade e a época em que isso tudo aconteceu.
Ela não sabia o nome dele. Eu também não sei. 
Ela sabia que ele tinha alguém. Eu também sei.
Ela tinha medo de dizer. Eu também tenho.

Incrível e engraçado como a mesma história pode se repetir ao longo dos anos e com diferentes pessoas, não é mesmo? Quantas pessoas estão assim hoje também? Quantas pessoas se apaixonaram por um desconhecido que trombaram na rua, ou a caminho do trabalho, ou no metrô, ou nas escadas da faculdade? Quantas pessoas devem estar apaixonadas por alguém que não devem? 
Quantos de nós estão vivendo um amor impossível à la Romeu e Julieta?

Oh, amor, por que tão difícil e incompreensível?

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