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Uma vez, em um consultório médico esperando ser atendida, vi uma senhora e uma jovem grávida conversando sobre casamento, amor e filhos. Ela disse à moça que quando mais nova era apaixonada por um rapaz, mas nunca havia tido coragem de dizer à ele o que sentia. Ele tinha uma namorada, e aquele era o principal motivo que a impedia. "Ele largaria dela para ficar comigo?".
Essa era a sua maior dúvida, e também seu maior medo. "Ele tem alguém."
Ela disse que passou anos da sua vida apenas trocando olhares e sorrisos com o homem que ela gostava. Trocando olhares enquanto imaginava os dois subindo no altar, comprando uma casa legal e escolhendo os nomes dos filhos.
E ela nem ao menos sabia seu nome.
Passou anos de sua vida perdendo o sono por um rapaz desconhecido, que poderia estar deitado ao seu lado da cama, enquanto, na verdade, ele estava em outra cama e com outro alguém.
"Mas ele tinha alguém!" - E se tinha alguém, por que olhava?
Ela nunca disse nada à ele durante todos esses anos de paixão. Mas aí um dia ela resolveu dizer, mas, quando deu por si, era tarde. Ele havia se casado.
Parece bem mentira, e eu adoraria que fosse, mas não era. Não parecia ser mentira estampado nos olhos daquela mulher. Parecia ser real. Parecia verdade, misturado com um sentimento de arrependimento. "Deveria ter dito."
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Eu também gosto de uma pessoa, e não sei se posso contar.
Eu também gosto de uma pessoa, que gosta de outra, e está com ela. Eu também troco sorrisos e olhares com alguém que divide a cama com outro. Eu também imagino uma praia com um sol escaldante e nós dois sentados na areia, sem pressa de voltar pra casa. Seria errado isso?
Será que é errado gostar de alguém que já tem alguém?
Será que é errado ter alguém e olhar para outra pessoa?
Sabe, minha mãe sempre me disse que olhar não arranca pedaços. Sorrisos também não?
Sinto-me extremamente culpada por ter alimentado sentimentos por uma pessoa como essa. É como se eu estivesse desfazendo um laço que estava amarrado, ou estivesse entrando no meio de duas coisas, e querendo ter meu espaço onde não tem possibilidades.
Sinto-me péssima cada vez que lembro disso, mas infelizmente não consigo evitar. É praticamente impossível evitar olhares ou não sorrir de volta quando vejo o sorriso bonito dele em minha direção.
É impossível não sorrir do nada quando lembro-me do seu olhar sobre mim, e penso em todo o mistério que gira em torno disso. Porque, eu tô praticamente na mesma situação daquela senhora do consultório, só mudando apenas o meu nome, a idade e a época em que isso tudo aconteceu.
Ela não sabia o nome dele. Eu também não sei.
Ela sabia que ele tinha alguém. Eu também sei.
Ela tinha medo de dizer. Eu também tenho.
Incrível e engraçado como a mesma história pode se repetir ao longo dos anos e com diferentes pessoas, não é mesmo? Quantas pessoas estão assim hoje também? Quantas pessoas se apaixonaram por um desconhecido que trombaram na rua, ou a caminho do trabalho, ou no metrô, ou nas escadas da faculdade? Quantas pessoas devem estar apaixonadas por alguém que não devem?
Quantos de nós estão vivendo um amor impossível à la Romeu e Julieta?
Oh, amor, por que tão difícil e incompreensível?