sábado, 31 de outubro de 2015

Caindo

Como se não bastasse as dúvidas que a vida dá de mão beijada, fui questionada com duas bombas seguidas dias atrás:
"Quando foi a última vez que você fez algo novo?" — "Você vive pra quê?". 
A psicóloga da faculdade conseguiu me deixar em apuros e prantos em apenas dez segundos. 
Pela primeira vez — talvez na vida —, eu fiquei sem saber o que responder. Não tive reação, nem pensamento, e não tive ideia do que dizer. 
De todo o meu coração, eu não faço a mínima ideia do que eu estou fazendo da minha vida.

O mês de Outubro passou e eu não tive tempo para respirar. Tive tempo para chorar, isso sim.
Eu poderia dizer que 2015 já bastou pelos primeiros dias do mês, mas a vida é tão engraçada, e a Terra dá tantas voltas, que, meu Deus, como várias coisas aconteceram em Outubro. 
Descobri que é no momento do aperto que eu consigo tomar decisões importantes e atitudes que realmente funcionem. Descobri que ainda consigo sorrir pra uma pessoa. Descobri também que ás vezes tudo o que eu preciso é de cinco segundos de coragem pra fazer algo insano e necessário. Um tchau, um sorriso e um oi não matam ninguém. 
Ah, sorrisos... Como cacei sorriso em Outubro. Cacei, encontrei, mas também perdi. Perdi e chorei. Chorei e gritei. Chorei, gritei e desesperei. Desesperada quase bati o carro, também quase morri. Quase morri de tanto chorar e de tanto rir. 
Como esse mês foi uma puta roda gigante.

No último dia do mês, acordei questionando-me sobre as minhas vontades, meus sonhos e as coisas que eu gostaria de fazer, mas por motivo desconhecido — vergonha — não fazia.
Saí para caminhar, sagradamente, assim como todos os outros sábados, mas dessa vez com o peito, o coração e a alma um pouco mais leves. Respirei fundo aquele ar fresco com cheirinho de chuva, tentando aproveitar ao máximo o sol que aparecia entre as nuvens.

"Quando foi a última vez que você fez algo novo?"
Quando foi? Eu não lembro. Talvez porque tenha sido há muito tempo atrás.
Então, eis que voltando pra casa resolvi fazer o que sempre quis.
Subi degraus incontáveis, e quando dei por mim, estava lá. 


Em cima do viaduto próximo a minha casa. 
Ela era ali. A Serra da Mantiqueira de um lado e a Serra do Mar do outro.
Eu queria sorrir, mas tava morta de vergonha. Um monte de carro passando e com certeza deveria ter um monte de gente se perguntando se aquela louca ia pular, ou coisa do tipo. 
Um ônibus — na verdade, o ônibus do motorista gato pelo qual tenho/tinha uma paixão platônica — passou grudando em mim e acho que foi bem proposital, tipo, "morre, sua louca!", mas não me importei. Fechei meu olhos e senti aquele vento maravilhoso na cara. 
Era minha primeira vez em um viaduto, desde sempre
Era minha primeira vez.

Voltei pra casa pensando que daqui alguns dias eu faço 22 anos, e lembrando de que meus 21 anos foram incríveis, mas que eu preferi meus 18, mas como não dá pra voltar no tempo, comecei a pensar que talvez seja realmente necessário cair na real e mudar algumas coisas na minha vida, a começar pelo meu corpo. Corpo, alma e coração. 

É bom fazer coisas novas pela primeira vez todos os dias. :)


Obrigada, Outubro, pelas sensações maravilhosas, incluindo os choros. E os céus estrelados. 

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