quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Sendo "a mudança"

Me relutei com todas as forças para compartilhar algo tão pessoal de mim. 
Talvez por vergonha, ou por medo receio do que as pessoas poderiam ou iriam falar, as críticas e gozações de sarros, mas, acontece que eu já estou tão acostumada com esse tipo de comportamento, que neste momento nem está fazendo tanta diferença assim.

As coisas boas prevalecem sobre as ruins.

Talvez seja pra isto que serve um blog. E quando digo blog, digo no sentido de blog pessoal, sem fins lucrativos, como os  de antigamente. Blogs feitos para compartilhar assuntos, sentimentos e comportamentos pessoais. 
Meu blog se chama Segredo Sujo e talvez neste exato momento ele esteja realmente fazendo jus ao nome. 
Resolvi compartilhar aqui meu momento pessoal. 
Uma conquista, muitas dificuldades e muita felicidade envolvida.

É um desabafo leve, sobre mente, corpo, alma, e coração. E mudanças, é claro.

Desde que o mundo é mundo e desde que todo mundo me conhece, eu sempre fui aquela criancinha gordinha que adorava brigadeiro e coxinha. Sempre. 

Eu sempre tive auto estima lá no chão. E não era por ser gorda. Era psicológico mesmo. Meu corpo era só mais um elemento de um conjunto de coisas que eu detestava em mim, mas não sabia como mudar.
Já levei fora por causa do peso. Já levei tapa na cara por ser gorda. Já engoli o choro, mas já chorei demais também.
Sempre dizia a mim mesma que eu jamais iria encontrar alguém para a minha vida se continuasse nessa vida. 
Bobagem. Mentira.
Mas pra mim não era.
O cara que eu gostava namorava uma menina magra. O outro cara que eu estava afim dizia que não pegava pelanca. Um outro me disse que eu era bonita, mas era uma pena que eu era gorda. Um outro disse que a única coisa que rolava era eu, e de preferência, de um barranco.
Sabe, ser motivo de piada e de desprezo era algo constante na minha vida.
Até que um certo dia as coisas começaram a mudar.

Era 31 de Julho. Eu estava pensando em um cara. Um cara que não julgava minha cara de lua de cheia, nem minha coxa grossa, muito menos minha camiseta apertada no peito. Um cara que não julgava o número da minha calça, nem da minha saia, e muito menos o meu número na balança. 
Ou se julgava, eu não sabia. Eu não me importava.
Eu estava mal comigo mesma já havia um tempão. Era madrugada quando resolvi ler um livro da Meg Cabot para ver se me sentia melhor, quando vi algo marcando uma página. Era um papel, escrito à caneta, por uma letra que não era a minha. Ali estava: "Seja você a mudança."
Aquela frase caiu como um curativo para a minha ferida, e fiz dela minha inspiração.

Naquela manhã, levantei da cama, ao invés de continuar tentando dormir e me livrar da insônia. 
Levantei, lavei o rosto, chorei e saí para caminhar.
Meus primeiros passos foram os mais difíceis passos que já dei em toda a minha vida. Tinha a sensação de que iria morrer, afinal, eu estava há quase um ano sem caminhar. 
Tive aperto no peito, câimbra, tontura e falta de ar. Mas não desisti. Caminhei por quarenta minutos. E foi assim incessantemente, até completar uma semana. 
Acordava cedo, e saía de casa sem nem avisar ninguém. Algumas coisas na vida a gente tem que fazer para nós, e não para os outros.
E quando dei por mim, já estava caminhando há um mês. Depois dois, três... E agora se completaram cinco meses de caminhada, de segunda à sábado, durante duas horas, com exceção aos domingos, porque eu realmente preciso de um dia para dormir até às dez da manhã. 

Tenho encontrado inúmeros motivos para acordar cedo, como sentir o ar puro e leve de manhã; ver o Sol nascer; os pássaros voando sincronizados, formando uma espécia de flecha nos céus; as nuvens com os mais diversos formatos; as pedras e folhas no caminho. E também sorrisos. Sorrisos daquele cara lá, que me fez ficar acordada e foi quem me fez pegar um livro para ler, servindo de incentivador para o primeiro passo. Sorrisos das pessoas com quem encontro na rua, como forma de me incentivar. E sorrisos principalmente meus, que sou meu maior orgulho e inspiração.

Eu não sei ao certo quantos quilos perdi. E para ser sincera, não quero saber ainda. Sei que aquele short que não servia mais, hoje já entra e está até largo. Aquela camiseta que estava super agarrada, hoje está solta na barriga. Aquela insônia que me matava, hoje já se transformou em boas e sagradas horas de sono bem dormidas.
Não deixei de comer coxinha e muito menos brigadeiro. Mas comecei a enxergar esses dois elementos como parceiros de prazer. Me permiti comer um brigadeiro duas vezes ao mês, depois de 25 dias de caminhada. Me permiti tomar refrigerante sim, assim como comer coxinha ou chupar um sorvete. A vida não é feita de grades pra gente se prender.

Acredito que talvez tenha perdido alguns quilos, mas o que importa é o que eu ganhei.
Ganhei sorrisos, ganhei saúde, disposição, ânimo, sono, coragem para sair, confiança para sorrir, e muita força de vontade para continuar neste caminho.
A caminhada me ajudou a controlar minha ansiedade, minha raiva, minha pré depressão, a qual foi diagnosticada na faculdade pela psicóloga no começo do ano, em Fevereiro, entre outras inúmeras coisas.

A caminhada me fez acreditar que eu posso sim encontrar um amor. Me fez acreditar que eu posso sim ser feliz. Me fez acreditar que eu posso sorrir, mas também posso chorar. Posso me amar, e talvez me odiar. A caminhada me fez perceber que eu posso sim acreditar em mim, porque eu posso ir além, mesmo com todo mundo dizendo que eu não aguentaria UMA SEMANA caminhando. Me fez provar para todos, inclusive para mim, que se eu quero, eu posso. Que um quilômetro pode se transformar em dois, e que meia hora pode se transformar em duas horas e meia. 
Mas, principalmente, a caminhada me fez conhecer meu corpo, minha mente, meus limites e o tamanho do meu esforço.
E me fez perceber uma coisa que eu não sabia que existia em mim: o amor próprio.

Sei que a diferença entre uma foto e outra são poucas, mas só eu sei o tamanho do meu esforço, do meu sacrifício, das minhas dificuldades e dos desafios, que, apesar de não relatados aqui, foram todos devidamente superados, vencidos e esquecidos!

Não quero ser exemplo para ninguém, até porque eu não sou. Não quero ser inspiração, porque, meu Deus, nem dá, né? Só quero compartilhar que se eu, a gorda fracassada da família, a amiga gorda, a gorda esquisita, conseguiu superar sua preguiça, então você também pode.




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