domingo, 31 de julho de 2016

Última vez

Entrei no carro, tranquei as portas, coloquei o cinto, liguei o rádio e parei. Demorei a girar a chave e colocar em primeira para sair. Nos últimos dias, um caminho desconhecido tornou-se parte do meu cotidiano, mas tão parte, que eu saberia chegar no destino final sem o uso de GPS, e quem sabe até de olhos fechados. Sabia quanto tempo demorava na estrada, e quanto tempo durava o sinal vermelho. Sabia os três caminhos que poderiam me levar onde queria, e os outros dois que me levavam para casa. 
Poderia ser um dia como qualquer outro. Mas não. Foi diferente.
Aquela seria a última vez que faria aquele caminho, pelo menos nos próximos trinta dias, ou quem sabe, nunca mais. 
Aquela seria a última vez que a música iria tocar enquanto eu olhava atentamente para o velocímetro do carro e para os radares na estrada. Aquela seria a última vez que eu iria contar no relógio os minutos para estar em um lugar na hora marcada, que não fosse a faculdade.
Aquela seria a última vez. 
Ou talvez não. Mas, quem sabe? 
Fiz o caminho com as mãos grudadas no volante, e com os olhos fixados no asfalto, porque o coração e cabeça estavam bem longe dali. Senti meus olhos se incharem e as lágrimas caiam, assim, tão naturalmente, que eu não conseguia parar. Só deixei...

Era noite, quando o vi parado encostado na parede branca da rodoviária, usando uma blusa da minha cor favorita. A blusa ornava com seu tom de pele, que ficava ainda mais bonito com seu sorriso. E mais ainda com seus lábios borrados com o meu batom. Suas mãos frias em contraste com a minha me causaram a mesma sensação de quando o vi e toquei pela primeira vez. 
Que sensação? Não sei decifrar. Um embrulho no estômago e um arrepio da cabeça aos pés. E as mãos suando. Coisa que ele faz acontecer. E eu não sei explicar como, e nem o porquê.

Nós dois, sentados juntos em um lugar incrível, e eu só conseguia pensar que aquela poderia ser a nossa última vez. Eu queria falar tanta, mas tanta coisa, e deveria ter dito, mas, saberia que ao abrir minha boca ia mostrar minha maior fraqueza: amar
E eu jamais pensei que um dia ia sentir isso de verdade.

Queria ter dito que vou sentir saudades, e que cada dia foi incrível ao lado dele. Queria ter dito que eu não queria me apegar, que eu não queria me importar, que eu não queria me apaixonar. Mas, me apeguei, me importei e me apaixonei. Passei dias pensando em nós dois, e em como seria incrível se nós déssemos certo. Pensei em como seria legal compartilhar coisas com uma pessoa tão incrível como ele.
Queria também ter dito que sorria toda vez que ele me acordava com uma mensagem. E como eu também sorria ao dormir. E que todas as noites passadas em claro com ele, conversando, não foram em vão.
E que eu trocaria todas essas conversas online por dez minutinhos que fossem, juntos, todos os dias.
Poderia ter dito também que o seu perfume tem um cheiro bom, e que eu amava quando voltava pra casa com ele em mim. Mas que, no fundo, odiava voltar para a casa. Por mim, passaria cada dia mais uns minutos juntos. 
Pensei em ter dito que ele me encontrou numa época muito confusa na minha vida, mas que ele me ajudou a consertar as coisas, e fez de mim uma pessoa melhor. Como? Despertando em mim meus sorrisos. Ai, como é bom sorrir.

Eu queria ter dito tanta coisa, que no fim das contas sinto que não disse nada. Ou se disse, acho que não disse tudo.

Olhar em seus olhos no silêncio da noite me fez perceber o quanto gosto dele. E o quanto ele, em tão pouco tempo, se tornou um alguém especial para mim. Olhar em sua boca e vê-lo esboçando um sorriso, me fazendo esboçar outro instantaneamente era tão gostoso. Até quando ele não tirava seus olhos de mim, eu sorria. Com ele era foi assim. Sorrisos e mais sorrisos.
Sentir seus beijos em mim e sua mão gelada no meu rosto enquanto fazia carinho foi, de fato, a sensação mais arrebatadora da noite. Não queria que acabasse.
Vê-lo sair do carro, fechando a porta e caminhando em direção oposta, pela última vez, foi como se tivesse um vazio dentro de mim. Aquela sensação de cortar o coração.

Voltei para casa relembrando das vezes que fiz aquele caminho, e pensando que não vou voltar a fazê-lo tão cedo. Voltei relembrando das noites em que escapei de casa para visitá-lo, ou das vezes em que seus olhos brilharam com um sorvete de menta com chocolate. Da gente, de mãos dadas no cinema, e o filme dos peixinhos passando. Ou da vez em que a gente se encantou com uma pizzaria que era o olho da cara, mas que valeu a pena. E foi incrível.
Na verdade, todos os dias foram incríveis. Tudo.

Eu não sei como vai ser agora que ele se foi. E também não sei como vai ser quando ele voltar.
Mas, sabe quando você sente que dessa vez vale a pena arriscar tudo?
Sinto que estou sendo uma completa idiota e que vou quebrar a minha cara de novo. 
Mas, pode ser que não. O que tenho a perder? Nada que eu já não tenha perdido uma vez. 
Se vai dar certo ou errado? Eu realmente não sei, mas sinto que pode dar certo. E por que não?

Eu não sei de muitas coisas, e para ser sincera eu não sei de nada. Apenas sei que jamais esquecerei da incrível férias de Julho e dos quase quarenta e cinco dias juntos, e eu realmente espero que esses quarenta e cinco possam se multiplicar e durar por um bom e longo tempo.

A parte boa de gostar de alguém é essa. Gostar.
E a parte ruim é quando a pessoa precisa partir

Não tenho certeza de muita coisa, mas eu acredito que isso aqui pode ser amor.

Eu só espero que essa não tenha sido a nossa última vez.

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