terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Realidade

Era madrugada quando acordei e olhei para o lado. Parecia uma cena de filme.
Era ele, ali, deitado ao meu lado, adormecido, enrolado na coberta. 
O quarto tomado pelo frio do ar condicionado, e a meia luz que iluminava o ambiente. 
Eu diria que foi uma das cenas mais belas que já protagonizei na minha vida.

Se tem um lado bom em dormir com alguém ao seu lado, é acordar também.
Aquela sensação de cama cheia, de travesseiro dividido, de coberta compartilhada, de braço adormecido, e também aquela inevitável vontade de ficar em silêncio observando a respiração alheia.

Como isso é tão gostoso.

Mais gostoso que isso, é a sensação de poder compartilhar sua vida com alguém. 
Não tem sensação melhor que poder sentar no escuro, e olhar a Lua, o céu, as estrelas, conversar sobre coisas aleatórias, fazer planos para um futuro próximo, ou longe, quem sabe.
Tudo bem. Existem milhares de outras sensações gostosas, mas não é mais legal quando você faz isso ao lado de alguém?
Que graça teria andar uma trilha toda para chegar em uma praia paradisíaca, se você não tivesse ninguém para compartilhar? Você pode até ir sozinho, e tudo mais, mas vai tirar uma foto para compartilhar nas redes sociais, não é mesmo?

A vida compartilhada fica mais gostosa.

Sorvete é bom, e não dá vontade de dividir, mas tudo bem se alguém resolver roubar uns pedaços de Kit Kat seus.
A vida tem disso.

Relacionamentos têm disso.
Egoísmo não tem vez. E quando tem, precisa acabar.


Levantei da cama, tomei um banho, e voltei a deitar.
Parecia mentira. Eu, com um sorriso bobo nos lábios, de canto a canto, não conseguia acreditar que aquilo era realmente verdade.
Ali, deitado, estava quem eu mais queria que estivesse em tanto tempo.

Alguém já te contou sobre amor à primeira vista? Então!
Depois de tantas histórias que ouvi, de tantos versos que li, ainda me recusava a acreditar nessa história de paixão à primeira vista por uma pessoa.
Como assim? Gente! Como assim alguém se apaixona por uma pessoa que viu pela primeira vez? Meio impossível, não é mesmo?
De longe, esse foi um dos últimos pensamentos que eu tive sobre amor.
Eu, a romântica da rodinha de amigos, a célula sentimental da família, a que lê romances e chora com filmes, não acreditar em amor à primeira vista?
É.
Incrível.
Mas foi amor à primeira vista, e mais quantas outras vistas precisassem acontecer.
E aconteceram.

Parece até mentira quando você gosta de uma pessoa, e descobre que ela gostava de você também, não é mesmo? Tanto tempo perdido com pessoas ridículas e desnecessárias, porque simplesmente o "universo não estava conspirando a favor" da gente.
Ou será que ele conspirou a favor, permitindo que tudo acontecesse, para a gente acontecer diferente?
Nunca saberei.

Eu havia desacreditado pela milésima vez no amor.
Eu havia me conformado que essa história de amor, reciprocidade e sentimentos, teriam que ficar para outra época, outro ano, outra vida, quem sabe.
Mas, como o destino é uma coisa incrível, não é mesmo?
Ele dá umas reviravoltas, uns desencontros seguidos de encontros, e despedidas, e surpresas, que de repente, aquilo que estava fora dos eixos, parece que começa a se encaixar aos poucos, e a tomar o rumo que deveria.

Estava abobada porque ali estava ele, deitado e adormecido ao meu lado, do jeitinho que há tempos eu pensei.
Era como se ele tivesse lido o roteiro da cena que criei na minha cabeça, seguindo todos os passos, todas as falas, gestos, e sem erros.
Aquilo que eu tanto imaginei um dia, aconteceu.
Mas será que era verdade mesmo? Ou será que era mais um dos meus sonhos realistas?

Fechei meus olhos pra ver se voltava a dormir, e voltar à realidade.

Acordei no susto, com seus olhos sobre mim, sorrindo como só ele sabe sorrir, me fazendo ficar envergonhada de um jeito que só ele sabe fazer.

"– Oi. Tudo bem?"

Aquela realmente era a minha realidade. ♥




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