Olho para o relógio de vinte em vinte segundos, na esperança de que o tempo passe logo quando eu olhar de novo. Mas nada, nada muda. Absolutamente nada.
O tempo parece não passar quando estou enfurnada entre quatro paredes e sentada em uma cadeira gelada, trabalhando num dia cinza e frio.
Entretanto, dias ensolarados parecem durar menos quando estou de férias, ou quando estou de folga, aos sábados, domingos e feriados.
De volta ao diálogo de sobreviver ou viver, ou simplesmente existir, comecei a pensar sobre a minha vida, meu relacionamento com a minha família, com meus amigos, com as pessoas ao meu redor, e comigo mesma.
As coisas em casa não estão tão boas assim. A relação pai & filho anda um pouco conturbada, e perdida no dia a dia. Sinto que a rotina e o tempo que passamos juntos trabalhando está esgotando nosso relacionamento como família.
Passar períodos de nove horas diárias trabalhando juntos tem sido desgastante para mim. No local, somente conversamos sobre serviços, e pouco conversamos sobre nossa vida, ou nossas vontades e desejos. Assim como em casa. Após o café e o banho, é cada um pro seu canto, e acaba por aí.
Dói demais.
Dói demais porque não sei em que momento da vida isso começou a acontecer. Isso me refiro à não conversarmos sobre nossos sonhos, ambições, planos, desejos, ou o que mais quer que seja.
Meu pai, sinto que sofre de Síndrome do Ninho Vazio. Ouvi uma psicóloga dizendo sobre isso, e comecei a me questionar se isto seria o que meu pai está vivendo.
Quando eu ou minha irmã conversamos com ele sobre nossos planos de prestar um concurso público, trocar de cidade, procurar um novo emprego longe, nossa, parece que o mundo está desabando. Palavras de incentivam faltam, e no lugar delas, palavras de desânimo são despejadas sem piedade. Ouvimos que passaremos dificuldades, que sofreremos, que não sabemos o quanto "a vida lá fora é difícil", e todas as outras coisas desse tipo.
Mas, me dói. Me dói porque não sou propriedade dele. Era, até meus dezoito anos, e sou (e serei) eternamente grata por tudo o que ele fez e me deu nessa vida. Mas, filho nasceu para o mundo, e acho que é assim que minha vida deve seguir.
Toda vez que acordo, depois de agradecer a Deus pela minha vida - mesmo não merecendo nem mais um dia nessa Terra (obrigada pela misericórdia, Senhor!) -, questiono mentalmente se este é mais um dia ou menos um dia de rotina, de falta de diálogo e de sobrevivência.
Pânico.
Vejo meus amigos sendo amigos de seus pais, companheiros de aventuras, e me indago sobre o momento em que tudo começou a mudar dentro de casa.
Sinto falta de abraços, beijos, deitar na cama ao seu lado, conversar sobre coisas aleatórias, ou sobre Corinthians e Palmeiras, sobre o futuro, sobre uma possível e futura viagem, sobre como o dia tá frio, e lembranças do passado.
Mas, parece algo tão distante.
Tão distante, que nem parece que essa era a minha realidade anos atrás.
Quando é que tudo se perdeu?
Sinto falta do meu pai. Aquele pai. O meu paizão. Que era presente, contente, carente e me mimava.
Sinto falta do meu pai, e de toda a sintonia que a gente tinha.
Será que é esquisito demais não saber onde tudo isso vai parar com o tempo?
Será que é tarde demais para passar uma borracha e esquecer de tudo isso que aconteceu, começar do zero, e tentar ser feliz de novo?