quarta-feira, 5 de março de 2014

(re) Encontro

Olhei e desviei o olhar. Cerrei meus olhos na tentativa de enxergar melhor.
Não. Não era possível!

Sim. Era.

Respirei fundo, tentando simplesmente ignorar a situação. Mas era impossível. 
Depois de tanto tempo, você estava ali, na minha frente, parado na porta daquele bar. Eu escolhi minuciosamente um bar nessa cidade tão grande, que era impossível você ir para lá. Era impossível! Más lá estava você, parado, percorrendo os olhos por todo o ambiente, talvez procurando algo ou alguém. 
Você estava lá, parado, quase da mesma maneira que eu te vi pela última vez: calça jeans clara, camiseta preta do Darth Vader e seu velho tênis branco. 

Senti meu coração bater como pandeiros de uma escola de samba. Ridículo falar isso, mas comparando meu coração com a bateria da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, estávamos no mesmo nível, com direito a paradinha e tudo. Minhas mãos suavam frio e eu sentia meu corpo tremer todo. 
Eu havia sonhado ontem com você, e não era possível você estar ali na minha frente justo agora. Justo no dia em que eu queria me sentir livre de você.

Seu olhar se fixou em um ponto, oposto ao meu, e você caminhou determinado naquela direção. Senti ciúmes. Tola. Encarei seus passos atentamente, pronta para levantar dali e sair correndo chorando ao ver você beijando outra garota. 
Confesso que me surpreendi ao ver você indo em direção à mesa onde seus pais estávam sentados. Considerando o fato de que fiquei extremamente feliz e aliviada por você não estar sentando ao lado de qualquer garota.

Continuei ali, no meu lugar, tentando sorrir para meus amigos, enquanto observava delicadamente você. Em determinado momento jurei um olhar sobre mim, mas... não. Não podia ser você. 
As horas passando e eu continuava incomodada com sua presença. Eu precisava ir embora. 
Caminhei em passos rápidos para o banheiro. Ao mesmo tempo que eu queria que você me visse, eu não queria ser notada.

Banheiros vazios nos dão mais liberdade para lavar o rosto, falar sozinha e chorar na frente do espelho, se for o caso. E eu iria fazer tudo isso, se não fosse aquela voz que eu conheço soltar um "Oi querida!" por trás de mim.

Levei um susto, mas um susto, que eu juro que se a pessoa não fosse sua mãe, eu com certeza xingaria até minha garganta doer, mas... era sua mãe. E eu adoro sua mãe.

"- Oi tia!" - Sim. Ainda chamo sua mãe de tia. Coitada. Mal sabe ela que já cogitei de chamá-la de sogra. 
Ela disse algumas palavras que pouco me importaram, mas quero que você saiba que ela gosta muito de mim e sentiu minha falta. "Estava com saudades".

É, "tia", eu também estava com saudades de você, mas estava ainda mais com saudade do seu filho.

Ela perguntou se eu havia visto você ali. Respondi com descaso, dizendo que não, e que havíamos perdido o contato. Ah, coitada! E então sua mãe teve a brilhante ideia de me puxar pela mão e me carregar lá para fora...

Sabe, minhas aulas de teatro serviram para alguma coisa: disfarçar muito bem.

Mas todo meu disfarce caiu por terra quando sua mãe parou meu corpo ao lado do seu na mesa. Engoli seco todo o choro que eu estava prestes a derramar no banheiro antes dela chegar. Respirei fundo, na tentativa de continuar meu disfarce, mas não consegui. Meu plano deu errado justamente quando você se levantou da cadeira e me abraçou forte. Sentir seus braços em volta de mim, seu perfume que eu já tanto sentia falta, e ouvir você pronunciando meu nome no meu ouvido... foi impossível.

Te abraçar, depois de tanto tempo, foi uma das melhores sensações do mundo. E parecia que cada vez que eu te abraçava mais, você intensificava seus abraços, como se fosse uma tentativa de não me deixar ir embora. Ah, se você soubesse que eu jamais fugiria de você!

Você se desfez do braço e colocou suas mãos no meu rosto. Naquele momento, já não parecia se importar com a presença dos seus pais ali na mesa, e nem com os olhares do bar inteiro que nos olhava. Senti meu olhos se encherem de lágrimas quando você me olhou no fundo dos olhos e sorriu.

Puta merda, cara! Você sabe o que fez comigo? Você sabe o quanto me fez sofrer? Eu deveria te dar um tapa na cara. Eu deveria ter mandado você ir para o inferno! Eu deveria ter pedido para você sumir!
Mas tudo o que eu consegui foi dizer "Senti sua falta". E pude ouvir você dizendo "Eu também senti a sua". Mas eu ainda não estava preparada para aquilo.

Doeu mais em mim, do que em você. Mas dizer "Eu preciso ir embora" realmente era necessário.
Eu precisava ir embora. Eu precisava ficar longe de você. 
Senti suas mãos apertarem meus braços, na tentativa de não me deixar partir, mas eu precisava.

Você partiu de repente, e me deixou no vazio.
Eu precisava fazer isso com você também.

Saí sem nem me despedir de ninguém. Tudo o que eu queria era uma cama, para deitar e pensar em tudo o que estava acontecendo. 
Eu precisava de uma cama para relaxar e um banheiro para chorar.
Eu precisava de tanta coisa! 
Mas, acima de tudo, eu precisava de você. Comigo.

Ah, como eu quero te reencontrar!


Crônicas de uma Iludida
Parte III
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