Ele seguiu em frente.
Não que eu esteja triste com isso. Pelo contrário: me sinto aliviada.
E bem pontualmente: feliz. Feliz por mim, e feliz por ele.
Ninguém é obrigado a sentir e expressar os mesmos sentimentos, mesmo estando em um relacionamento.
Há um momento em que aquele mesmo sentimento compartilhado de antes simplesmente acaba, e não há mais o motivo de estar juntos - e às vezes ele dura pra sempre.
Me sinto feliz sim, por ele ter seguido em frente, porque a chance dele se lembrar de mim é mínima ou inexistente, e feliz por ele porque a gente atrai o que deseja, não é isso?
Também quero essa felicidade.
Mas saber que ele seguiu em frente me doeu.
Ele seguiu, e eu sinto que estou aqui, presa no meu passado, presa nas minhas lembranças, nos meus medos, na minha insegurança. Me sinto jogada na cama, embolada em lençóis, coberta de um sentimento que não sei expressar.
Ele seguiu, e me deixou aqui, com todos os traumas possíveis. Seguiu, e nem ficou sabendo que tive que fazer terapia pelo medo que ele me causou, pela raiva que ele me fez passar, e pela minha moral e confiança que ele jogou no lixo, como um pão embolorado depois de meses esquecido na despensa.
Como pode ser tão fácil para uma pessoa simplesmente destruir o emocional e psicológico de alguém, e simplesmente seguir em frente, como se nada tivesse acontecido?
Ele compartilhou a nova vida e, infelizmente, chegou até mim as suas conquistas: um amor e um porto seguro, um apartamento compartilhado, e uma nova história sendo escrita.
E eu?
O que tem pra mim?
O medo de sair com um cara; a insegurança do meu corpo; o medo de ser rejeitada - de novo -; a dúvida dos sentimentos; a falta de coragem de viver algo novo; e a perda do sonho de ter alguém ao meu lado para compartilhar a vida - desde uma viagem, até as chaves de casa.
Não é justo.
A vida nunca foi justa, eu sei, mas isso não é justo. Não é justo que eu tenha me doado tanto, e tenha recebido tão pouco. Não é justo que eu tenha oferecido um banquete, e só tenha me sobrado migalhas.
Me sinto como um vaso quebrado em vários pedaços, em que a única solução é jogar no lixo.
Me sinto no lixo. Me sinto um lixo.
Todos os dias em que acordo me lembro de tudo o que passou. Não tem um dia em que eu não sinta uma vontade imensa de voltar no passado pra nunca ter permitido que uma pessoa como ele tivesse entrado na minha vida e feito um estrago tão grande.
Mas como a gente não tem bola de cristal, nem pode voltar no passado, e nem é feito de vaso para ser quebrado e jogado no lixo - somente metaforicamente -, sigo respirando fundo, fingindo estar bem e feliz, sorrindo como se tudo estivesse andando bem, e lutando comigo mesma para superar esses traumas e medos, para dar a volta por cima e dar, finalmente, uma nova chance para mim.
Como é difícil essa tarefa de superar o passado e escrever uma nova história.