quinta-feira, 30 de novembro de 2023

"30 é a idade do sucesso"



 "30 anos. 30 é a idade do sucesso!" - foi o que a Jenna Rink me prometeu.
Mas não é bem assim.

Quando fiz 28 anos, uma contagem regressiva começou na minha cabeça, movida pela força do Retorno de Saturno: tudo vai mudar aos 30.
Mas, nada mudou.
Acordar no dia seguinte ao 04 de Novembro, foi como acordar em tantos outros desse ano esquisito que foi 2023.

Em 2008, quando fiz 15 anos, conversando com uma amiga no ônibus enquanto íamos para São Paulo, numa excursão escolar, lembro de ter visualizado minha vida aos 30: morando em outra cidade, casada, com dois filhos e trabalhando em algo que gosto.

Se passaram 15 anos, e aos 30 a minha vida está completamente diferente do que eu um dia sonhei: não casei, não tenho filhos, não tenho casa, e ainda moro na mesma merda de cidade.
As coisas não se tornaram incríveis aos 30. Se tornaram cansativas.
Aquele cansaço, aquele desgaste, aquele ódio, de ver que, no fundo, parece que nada mudou, que nada foi como eu queria, e que talvez nunca vá ser mesmo.
Um ódio tomou conta por ver que, no fundo, parece que todo mundo foi, e eu fiquei.
Fiquei, mas não quero mais ficar, mas estou ficando, aqui, parada no mesmo lugar, tentando sair, tentando remar, tentando ficar de pé, mas sempre sendo puxada pra baixo, como atraída por um imã de merda.

Chorei mais nesses primeiros trinta dias dos meus trinta anos, do que nos últimos meses.
Tem dias que eu olho pra mim no espelho e não reconheço minha cara inchada de tanto chorar. Tem dias que minha cabeça parece que vai explodir, e eu sou capaz de cometer cinco crimes ilegais e inafiançáveis facilmente.
Tem dias que quero sumir, quero morrer, quero desaparecer, quero ir embora e deixar tudo pra trás: celular, documento, mochila, e só levar o cartão de crédito. Tem dias que entro no site da Qatar Airways e no Airbnb e faço simulação de quanto ficaria passar uns dias no Egito. Em outros, me pego rondando as ruas de Toronto pelo Google Maps, e até já encontrei minha casa na Emilia-Romagna.
Pois é. Conheço cada metro quadrado sem nunca ter pisado naquele lugar.
Tem dias que quero jogar tudo pro alto e investir todo meu dinheiro num intercâmbio em Londres, só para ver o McFly tocar na rua. Tem dias que eu fecho os olhos e me imagino na beira do mar na cidade de Salvador, mas quando abro os olhos, estou caminhando no calçadão ao lado da linha do trem no bairro onde eu moro. 

30 anos não é a idade do sucesso.
30 anos foi o acúmulo de toda a ansiedade, a depressão que vivi nos últimos anos, puxada por um relacionamento tóxico que me afeta até hoje, convivendo ainda com pessoas bostas, e frustrada por não ter nascido no Canadá, porque minha irmã tinha apenas 02 anos de idade e minha mãe teve medo de mudar de país com meu pai e não se adaptar.
30 anos.
30 é a idade do sucesso?
É a idade do ódio, da raiva, da decepção, da angústia, do nervosismo, do arrependimento, dos pensamentos ruins e da vontade de sumir.
Me sinto num abismo, pronta pra cair nele, mas tem algo me segurando, mas ainda assim e eu acho que a qualquer momento essa corda vai arrebentar.

Nada mudou para melhor. Tudo piorou.
A única chave que virou foi a da minha cabeça, porque na vida mesmo, está tudo a mesma merda.
Não parece que se passaram quinze anos, mas sim que regrediram.
30 anos e morar com pais conservadores e hipócritas é desgastante, humilhante, doloroso e confuso.
A minha vontade é de sair correndo, de gritar, de xingar, de mandar todo mundo ir se foder, pegar meu dinheiro e ir pra qualquer lugar longe daqui.

Mas, aí é preciso lembrar que o dinheiro guardado não é o suficiente para comprar um sítio no meio do nada no bairro das Pedrinhas, nem perto da Canção Nova, ou lá na Ponte Nova, e muito menos na praia abandonada de Bombinhas, e aí volta a realidade: acordar cedo, lavar o rosto, e encarar uma hora e meia de caminhada pra ver se o coração acalma e a vontade de sumir não brota de novo.

Retorno de Saturno veio e levou todo meu espírito junto.
Me preparando agora pra poder voltar a girar com ele de novo.
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