sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Férias, Titãs e saudade


A chuva que caía no vidro  deixava tudo muito melancólico.
A chuva, o frio, o vento, e os pensamentos. Era saudade, e só saudade.
Desta vez ela não se misturou ao rancor que senti por muitos anos no meu coração.
Desta vez foi só ela.
Só a saudade.

Lembrei das minhas férias em Assis.
Incontáveis férias em Assis, com meus pais e irmã, na casa dos meus tios.
Lembrei dos dias em que eu, minha irmã e minhas primas, a Ana Carolina e Juliana, passávamos a tarde toda na sala, com o chão de carpete, rindo, brincando, dançando ao som do cd do Titãs, criando coreografias expressivas, como na música "Não vou me adaptar".
Depois, deitávamos no chão, e nossas mães nos chamavam pra tomar banho e café.

Lembro dos passeios que demos de carro, das voltas na rua, de um imenso cômodo cinza, ainda inacabado, vazio, e cheirando a pó, que eu não lembro o que era, mas me recordo de ter estado naquele lugar várias e várias vezes.

Passei um dia todo lembrando desses dias.
Lembrando de como éramos uma família bonita, unida, generosa.

Lembrando de como tudo era, e como tudo está agora.

Não sei ao certo como tudo começou.
Ou melhor, como tudo terminou.
Em um dia, estávamos ali, unidos. No outro, distantes.
Tão distantes que nem no momento de dor nos aproximamos. Tão distantes que nem no momento de dor compartilhamos o que éramos, somos e sempre seremos: família.
Tão distantes no momento de dor, que nem nos olhamos nos olhos.

O problema da família é que, sem querer, a gente toma as dores um do outro.
Talvez tivesse sido diferente se eu não tivesse tomado a dor que minha avó sentiu ao ser esquecida pelo filho, e praticamente abandonada pelas netas. Ou talvez não tivesse tomado a raiva que minha mãe e minha tia sentiram devido ao descaso deles.

Mas, eu sempre tomei as dores.
Tomei a dor que eu também senti.
Tomei o descaso pra mim. A ausência pra mim.

Doeu. E como doeu.
Dá saudade, e como dá saudade de cada abraço, de cada conversam de cada risada, cada dança, cada noite dividindo o colchão no chão e levando xingo por não dormir antes das 23h.

Saudade de tudo o que foi vivido. Tristeza por saber que não dá mais pra viver como antes.

Cada um seguiu seu caminho, se descobriu como pessoa, está escrevendo sua história, uma diferente da outra, mas todas com um mesmo item na "lista de coisas que aconteceram na vida" igual: Um dia, já fomos uma família.

Saudade.
Só saudade.
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