Água quente. Dedos doloridos. Cansaço. Vontade de chorar.
Deixei a água quente cair no corpo. Dizem que melhora.
Fiquei uns cinco minutos assim.
Fechar os olhos e não pensar em nada, a não ser na tela preta, ouvindo apenas o barulho de fora - e não a bagunça da minha cabeça - ajuda a amenizar a confusão de sentimentos que toma conta de mim.
Já passou de noventa dias de quarentena.
Mais de um milhão de pessoas infectadas.
E meu coração resistindo.
A dor no peito passou. A falta de ar também. Só aparece de vez em quando.
O estresse tem sido meu amigo nesses últimos dias.
Muita informação pra digerir.
O ex namorado querendo me dar presente no dia dos namorados (?????), o ex lance aparecendo do inferno com solicitação pra me seguir na outra rede social, o cara que eu gosto não dando notícias desde abril... Muitas coisas bem bosta que eu não consegui ainda digerir.
Passa ano, entra ano, muda ano, ou pára ano, e continua essa mesma desgraça: me importar com quem nem lembra de mim.
Tentei focar no trabalho. Me frustei. Me cansei.
Tentei focar na série que eu gostava. A porra da internet não funciona.
Tentei dormir cedo. Não tenho sono.
Me irrita.
Quase tudo me irrita.
Minha voz, meu cabelo, meu corpo, minha roupa, meu cheiro.
Tudo.
Me irrita a ausência. O descaso. O sumiço. A falta de interesse.
É complicado.
Aquela sensação de copo está começando a ser real comigo: copo meio cheio, meio vazio: não tão fria, mas também não tão apaixonada.
Saudade de um romance, aliás.
Saudade de escrever. Sobre um romance.
Céus! Acabei de sair de um relacionamento e estou pensando nisso????
Não que eu queira namorar, mas é que eu só queria alguém pra me dar inspiração pra escrever sobre o amor de novo.
Mas não o amor que sofre, que faz chorar, mas aquele amor tipo Katy Perry, que faz borboleta no estômago. Amor que dá insônia. Amor que causa sorrisos espontâneos. Amor que dá arrepio. Amor de romance. Só isso.
Saudade de quando a inspiração fluía quando o Justin estava por perto. Ou mesmo longe. Mas em contato, sabe?
Mas já tem dois meses que ele não dá sinal de vida.
Acontece, né?
Vinte e seis.
Vinte e seis anos e pensando que o retorno de Saturno pode estar mais próximo do que eu imagino.
Entretanto, pensando que o retorno já está acontecendo, porque sinto é que como se eu tivesse amadurecido muitos anos em apenas alguns meses, mas ao mesmo tempo me sinto como uma adolescente de quinze anos.
Todo dia eu respiro fundo, com vontade de chorar, mas me segurando.
Tive crise de choro dias desses. Sentada no chão do banheiro, chorando por, sei lá, uns vinte minutos, sem conseguir me controlar, pensando em tudo: pensando na fase em que minha vida está, na solidão que estou sentido, no abandono diário que parece bater na minha porta, na saudade que tenho das pessoas que gosto, na vontade de ter um romance pra escrever, e ao mesmo tempo no absurdo que é eu me importando com coisas assim enquanto tem gente perdendo a vida.
Eu tô cansada.
De tudo. De todos.
E até de mim.