sábado, 1 de agosto de 2020

Querido Bento


Sempre acreditei que nada acontece duas vezes da mesma maneira, assim como nada acontece por acaso.
E foi assim. Era pra eu estar ali, naquele lugar, naquele dia, naquela hora, e ele também.
E então, aconteceu.

Era dia 04 de Novembro de 2019. Meu aniversário de 26 anos.
Acordei cedo, orei, agradeci a Deus, e respirei fundo. Levantei da cama e achei que seria uma ótima ideia caminhar naquele dia.
Depois de tanto tempo, estava ali, colocando meu tênis companheiro, meus fones de ouvido, amarrando o cabelo, e pensando no trajeto que faria - e se aguentaria completá-lo.
E foi quando eu o avistei.
O avistei de longe, perdido, todo assustado, olhando de um lado pro outro, procurando por algo - comida, óbvio.
Meu coração amoleceu imediatamente, e não pensei duas vezes em chamar aquele pequeno cachorro, todo fedidinho, sujinho, magrinho e cansado pra vir perto de mim, e poder alimentá-lo.
Ele correu na minha direção, pulando, correndo, me seguindo, até que chegamos em casa. Corri para pegar ração e água, e ele lá, sentadinho no meu portão, esperando eu voltar.
Ele comeu, bebeu, e ficou ali, do meu ladinho. 
Entrei em casa, pensei e pensei, e voltei, e lá continuava ele. 

Tirei fotos, fiz carinho, chorei, telefonei para protetoras de animais, busquei ajuda, e nada do cachorrinho se afastar de casa. As horas se passaram, e eu tive que ir trabalhar. Quando voltei do trabalho, no meu horário de almoço, lá estava ele, na rua atrás da minha casa, deitado no chão, encostado no muro, e machucado. 
Resultado: ele havia sido atropelado pelo médico do posto de saúde, que saiu e não prestou socorro.
Complicado.
Lembro-me que a enfermeira ia aplicar uma injeção de antibiótico (?????) nele, e eu logo já fui fazendo um escândalo, e resolvi cuidar dele do meu jeito mesmo. 
A noite, fomos em uma pizzaria comemorar meu aniversário, e quando voltamos, lá estava o cachorrinho machucado, na porta da minha casa. 
CÉUS! QUE NERVOSO! Meu pai ficou muito puto, mas ok.
Eis que conseguimos um papelão, um pratinho de água e comida, e abrigamos ele debaixo do telhado da casa abandonada vizinha à nossa.
A protetora levou ele no veterinário, e graças a Deus era só um machucado na pata, e não fratura. 
Ele tinha, aproximadamente, cinco ou seis meses, o que tudo indica que ele nasceu em Maio.

Os dias foram se passando, e as coisas foram acontecendo.
Conseguimos com a protetora uma casinha temporária pra ele, que ficou no portão da minha casa.
A gente sempre dava comida, ração, água e até colocamos cobertor pra ele lá.
E então, as coisas tomaram um outro rumo: as chuvas de Novembro chegaram, e com medo dele tomar chuva, nós colocávamos ele pra dentro de casa. Às vezes, também deixávamos ele entrar para almoçar.
E teve a vez que ele entrou pra brincar com a nossa cachorrinha Lolla, e depois entrou pra dormir na garagem, pois na rua estava muito frio... 

E nisso se passaram quase trinta dias.

Nesse meio tempo, ele ganhou um nome. Afinal, não dava pra chamar de Totó todo dia, né?
Não me lembro como, mas ele ganhou o nome de Bento.
Não conheço a história de São Bento, mas todos dizem que, pela história do santo e pela trajetória do meu cachorro, o nome caiu bem...

E eis que conseguimos três lares temporários para ele.
Sim.
Três lares.
Três lares temporários que se tornaram um fracasso.
Bento simplesmente não comia - ou se comia, era a própria fezes -, não fazia xixi, só chorava, e queria ficar deitado no portão - talvez querendo fugir da casa hahaha.
Foram três tentativas de dar a ele um lar gostoso, aconchegante, que o amasse, desse carinho, abrigo, amor e paz.
Nenhum desses lares deram certo, e eis que ele voltou pra casa!

Estávamos à procura de um lar pra ele, mas jamais poderíamos imaginar que o lar ideal, cheio de amor, de carinho, de amor e paz seria justamente... nosso lar ❤

Era 09 de Dezembro, quase seis horas da tarde, quando recebi uma ligação dizendo que ele estava sendo devolvido. A protetora chorava tanto, sabe? Doeu meu coração.
Eu estava no carro com meu pai, e quando contei que o cachorro estava sendo devolvido, lembro que meu pai quase bateu o carro de nervoso! hahahahha Céus! 
Pensei que meu pai iria expulsar o cachorro de casa, mas tudo o que aconteceu foi: "Fazer o que, né. Ele vai ter que ficar aqui, se não vai morrer.".

E eis que tem sido assim.
Ele aqui, comigo, com a gente, com todos, com nós.

Bento chegou trazendo amor.
Bento chegou alegrando a minha vida.
Bento chegou fazendo bagunça também, pois adora destruir plantas. 
Complicado.

Às vezes paro e penso naquele 04 de Novembro de 2019, às seis horas da manhã, e fico pensando em como tudo seria hoje se eu não tivesse saído pra caminhar.

Deus escrever certo em qualquer linha, seja ela torta, reta, pontilhada, cruzada, ou como for.
Os planos de Deus são incríveis, maravilhosos, soberanos, e eu só tenho a agradecer ao Pai pela oportunidade que Ele me deu de ser tutora de um ser tão maravilhoso, carinhoso, grato e incrível como o Bento. 

Bento, carinhosamente apelidado de Lollo, mas também chamado de Lewis Bento, o amor da minha vida!



Não compre animais. Adote! ❤




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