domingo, 20 de setembro de 2020

Meus pés no mar


Calor. Vento quente. Sorrisos. Abraços. Risadas.
Lembranças.
Saudade.
Pertencimento.

Os dias se passaram rápido demais - e tenho a sensação de que cada vez mais passarão ainda mais rápido.
Parece que quando eu era mais nova as coisas não eram bem assim...

Nem no meu mais descontrolado sonho poderia imaginar viver em uma pandemia. 
Nem daquela vez que sonhei que os planetas estavam perto de mim, enquanto eu estava dentro de um carro sem motorista, em uma estrada psicodélica, tirando foto de tudo. Muito menos das vezes desesperadoras que sonhei que estava em um carro desgovernado que descia um viaduto, ou quando sonhei que estava sendo perseguida por uma onça pintada...
Coitada de mim.
Há um ano atrás nem sequer imaginava que tudo estaria como está agora, e eu estava reclamando.

2020 está sendo difícil, mas nem de longe é meu pior ano.

Hoje me peguei pensando em Itapuã.
Que saudade de colocar meus pés na areia, molhar meu cabelo, tomar caipirinha de qualquer coisa, posar para fotos, e descobrir um novo lugar com a minha melhor companheira - vulgo irmã.

Nem preciso fechar meus olhos para me lembrar de Salvador.
Lembro-me daquele lugar como se fosse minha casa - e olha que nem conheci dez por cento da cidade.

Sinto saudade.
Saudade da sensação de liberdade, de vontade, de paixão, de pertencimento.
Saudade de molhar meus pés no mar, enfiar meus pés na areia, e sentar na beira da praia pra caçar conchas. 
Saudade de andar, andar e andar, entrar em becos, descobrir igrejas, observar os pássaros, e contemplar a graça de Deus.
Saudade que aperta, que machuca, que dá vontade de chorar.

Vejo tanta gente, amigos ou não, viajando para a praia em tempos como esse, e me desespero, sabe? Que desespero ver gente inconsciente e inconsequente tomando atitudes burras, descabeçadas e sem sentido.
Será que não sentem medo do Coronavírus? Será que acham que cento e trinta mil - e contando - mortes é invenção da mídia x oposição ao governo? Será que ninguém ao meu redor acredita que existe um vírus fatal rolando, e que a gente pode morrer? Tipo, perigo de vida eminente, sabe?
Com um desgoverno genocida, com tantas queimadas, abusos e absurdos em 2020, já nem culpo ou julgo, nem critico, mais quem foge para praia. 
Afinal, hoje, 20 de Setembro de 2020, pela contagem oficial do Estado, estamos há cento e oitenta e um dias de quarentena.
Surreal.

A saudade hoje bateu forte. Forte demais para ficar só aqui. Forte demais para ficar calada. Forte demais para não ter um enredo, um registro, um som.
Coloquei na repetição, no modo infinito, "Tarde em Itapuã". Pois é. Foi mais forte que eu.
Assim como o choro. Não consegui controlar, e a vontade de chorar apareceu por aqui.
Tem dias que é assim, né? Chorar e chorar. E tá tudo bem chorar.

Nessa quarentena a gente pode tudo. Menos desistir de continuar.

Comprei um livro.
Comprei um mouse pad.
Comprei outra coisa que não lembro.
Os Correios estão de greve. A encomenda está atrasada. E tá tudo bem.
Só consigo pensar em Itapuã...




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