sábado, 3 de dezembro de 2022

O casamento da minha melhor amiga

As flores ornam com a cor do vestido, que orna perfeitamente com o seu corpo. Unha pintada, batom vermelho, cabelo preso.
Ela está linda, radiante, e faz sol. Choveu a semana inteira, mas quis o universo que no seu dia as nuvens desse espaço para a luz clarear e deixar tudo ainda mais lindo.

Tão lindo quanto ela. Tão lindo quanto eles.

Adoraria escrever mais e mais sobre um dos dias mais importantes de um novo começo na vida de uma pessoa que eu tanto amo.

Mas, não é possível. Não faço parte deste momento, não me encaixo nele, não me encontro, não me sinto, não pertenço.
Meu nome não está incluso na lista de presença - nem do seu casamento, muito menos da sua vida.

Esse seria um dos dias em que eu estaria ao seu lado, torcendo para que tudo desse certo, e compartilhando da mesma felicidade. Seria mais um dos dias lindos, que ficariam guardados na memória, para sempre, sempre...

Lembro quando éramos jovens, e sonhávamos com tantas coisas. Os planos de ir embora pra outra cidade quando a gente terminasse a faculdade; mudar de país; comprar uma casa ao lado da outra; criar nossa família unidas, e nossos filhos seriam melhores amigos.
Sonhar com a gente juntas, descobrindo novos momentos, novos lugares, novos sentimentos...
Era tudo tão incrível, e parecia que tudo ia ser como a gente queria que fosse.
Nós duas, juntas, e tudo ao nosso redor caminhando na mesma direção.

Ela era minha melhor amiga. A primeira amiga que fiz numa sala com trinta e cinco alunos no primeiro ano do ensino fundamental. Era minha amiga em todos os momentos, inclusive quando brigávamos. Parava de trabalhar para sentar na calçada da loja dos meus pais, e ficar conversando com ela, como se não tivéssemos nos vistos horas antes. 
Lembro das vezes em que chorei porque o ensino médio não tinha ela ao meu lado. E recordo ainda mais do dia em que ela entrou pela porta da minha sala, com um sorriso gigante, me abraçando, e só então fui descobrir que ela pediu para seus pais mudarem ela de escola, pra ficar comigo.

Era tudo tão incrível, tão ingênuo, tão intenso, tão... a gente, sabe?
 
Esse ano completam dez anos em que nossas vidas tomaram rumos diferentes, e nunca mais se cruzaram.
Dez anos desde o dia em que eu tentei fazer algo bom pra ela, que o celular acabou a bateria, que a conversa ficou pela metade, e todo um mal-entendido se embrenhou entre nós e nunca mais nada foi igual. 
Nunca mais houve nós duas.
Nunca mais.
Tantas e tantas pessoas cruzaram a minha vida ao longe desses anos, e nenhuma preencheu o vazio que ela deixou.

De longe via as conquistas dela: a tão sonhada "vaga" na aeronáutica, a ida para a capital, e ficava também sabendo dos perrengues, das crises, e do quanto "ela precisava de uma amiga como você, Jeyse", segundo sua tia.

Dez anos que sinto um amor tão grande, um carinho tão especial por ela, aqui, em segredo, em ela nem imaginar. De certo, acha que eu nem me importo com ela, mas a verdade é que sempre lembro das nossas conversas, nossas partilhas, nossos dramas e sonhos.

Ai que saudade.

Só me resta a lembrança, a saudade, o desejo para que ela seja a pessoa mais feliz dessa vida, e essa foto, que tirei com minha primeira câmera digital, em 2008, e é a minha preferida da Bruna



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