Sinto meus pensamentos transbordando pela minha cabeça, o silêncio ecoando por minha rotina - mas ele é barulhento, inquietante, intrigante.
Eu quero escrever, colocar meus dedos para trabalhar e terminar o livro que comecei a escrever e que ainda continua sem título.
Mas sem ele, eu sinto que não consigo.
É como se eu não conseguisse dar um passo a frente sem que pudesse ver seus olhos ou escutar sua voz. Nem penso no seu cheiro, porque estamos tão longe, que já nem lembro mais o aroma da sua pele, mas quando ele está sob meus olhos, sinto cheiro de cerejeira, aquele leve cheiro doce e cítrico, que me lembra também a primavera.
O último livro lido foi "O Lado Obscuro", de Tarryn Fysher. A cada página lida, me reconhecia em Senna: fria, distante, desacreditada de algo chamado amor.
Se existe mesmo um fio que nos liga à nossa alma gêmea, o tal do Akai Ito, e que, diz a lenda, ele nunca se romperá, pois é o fio vermelho do destino, será que o meu pode estar ligado à ele?
Li aquele livro com uma pessoa na minha cabeça. Sim, ele: aquele que meus olhos grudaram quando o vi pela primeira vez em 2005 enquanto descia as escadas da Biblioteca Municipal; aquele cara que esteve no meu pensamento desde o primeiro minuto deste novo ano (e no último segundo do ano anterior também).
Eu passei o primeiro dia do ano sozinha, caminhando, ouvindo música, chorando, pedindo à Deus, que nossas vidas se cruzassem. Eu escrevi nossos nomes em um papel branco e coloquei na Árvore da Felicidade no Paço da Liberdade, em Curitiba, porque eu desejei, da minha alma, que nossas vidas um dia pudessem estar no mesmo caminho.
Mas ao mesmo tempo que penso nisso, nesse futuro, nessa felicidade, tudo se desmorona.
E por que?
Basta olhar pra mim e tudo se encerra.
Ainda estou afundada nesse buraco.
Aparentemente, sair das redes sociais - ainda que por um pequeno espaço de tempo - não deixa meus pensamentos tão alinhados como eu pensei que talvez ficariam.
Já se passaram 24h desde a última vez que meu celular foi ligado, e, para ser sincera, tenho certeza que quando ligar, ele vai continuar do mesmo jeito de antes: sem mensagens, sem ligações, sem nada expressivo, porque é exatamente isso que acontece quando você não tem ninguém.
Eu não tenho ninguém que se preocupe, ou que se lembre.
Enfim.
Estou com medo. Estou cansada.
Não sei nem aplicar um remédio caro direito.
Me sinto inútil em tantas camadas.
Quero gritar.
Hoje chorei. Era para chorar por causa do livro, mas tantas coisas resolveram pesar naquele momento, e o choro acumulado simplesmente saiu sem controle. Maldita hora que escolhi para ler mais um livro.
Queria me desligar da realidade, mas recebi mais um choque dela, do que outra coisa.
Estou por um fio - e ele não é Akai Ito, ou seja: pode se romper a qualquer instante.