Qual o momento de assumir que está apaixonado?
Existe tempo certo para dizer que gosta de alguém?
Existe tempo certo para dizer que gosta de alguém?
De todos os clichês literários existentes, eu adoraria gabaritar todos.
Desde os romances de época, até os dark romance da atualidade, queria preencher a cartela com o máximo de itens possíveis envolvendo um relacionamento.
Queria um fast burn, um "amor à primeira vista" – e à quantas vistas fossem necessárias. Queria aquela cena em que os personagens combinam tanto em coisas tão específicas, que é impossível não pensar: "Poxa, onde você esteve esse tempo todo?".
De todos os clichês, o meu favorito ainda continua sendo aquele em que duas pessoas se encontram por acaso, e parecem que passaram uma vida inteira juntos, no passado.
Talvez seja isso que chamam de vidas passadas.
Talvez seja essa a sensação de estar apaixonado.
Sentir que a outra pessoa é uma metade de você, ainda que não conheça nem dez por cento de quem ela é.
Estar apaixonada me assusta.
Estar apaixonada me assusta demais.
Me sinto sufocada pelo medo de que a história pode se repetir, de novo, e de novo, e mais uma vez. Me assusta estar apaixonada, pelo medo da sensação de que a qualquer instante, isso pode acabar, e aí quem vai sofrer sou eu, como sempre. Aquele aperto no peito de "ir embora", porque, há muito tempo, ninguém fica.
Estar apaixonada me assusta.
Mas também me inspira.
Me aquece o coração aquela sensação de estar gostando de alguém, de sorrir por uma coisa que lembrei, ou de passar um tempo do dia trabalhando, perdida em pensamento, com a cara da pessoa na minha cabeça.
Estar apaixonada faz eu me sentir viva, de novo. Ainda que estar apaixonada seja um perigo, porque eu sempre me iludo demais, sempre me entrego demais, me perco demais, me doo demais, e me fodo demais.
Mas a verdade é que eu amo estar apaixonada. Amo a sensação de quentinho ao planejar e pensar em coisas para fazer, ver, ouvir, falar, estar juntos. Ainda que, ao mesmo tempo, me cause uma sensação de desespero, de nervoso, me sinto leve.
Eu quero um amor leve, que não me cause dor, nem estresse, porque nada vale a minha paz - e se tira a minha paz, então não deve ser levado à sério.
Eu quero alguém que tope fazer quebra-cabeça de 500 peças do Van Gogh comigo, e que tope fazer um roteiro de vinhos, e que não reclame das músicas que ouço, e nem se importe com pelos de gato, ou com pizza de quatro queijos. Quero alguém que faça rir, e me faça esquecer que eu estou cansada. Quero alguém que veja filmes comigo, e não se importe de ficar em casa sem fazer nada. Quero alguém que pense como eu, que planeje coisas simples, e que inclua uma casa com um cacto e um pinheiro plantados, gatos tomando sol na varanda e criança correndo pelo corredor, enquanto o almoço de domingo não fica pronto.
Quero alguém pra dividir, pra crescer, e não pra me diminuir.
Quero estar viva, de novo.
Há tanto tempo não me sinto assim, leve, viva.
Acho que é essa a sensação de estar apaixonada.