quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Oceanos e Ruas


Uma vez li algo que demorei para entender, mas quando entendi, me senti péssima: "Vale a pena cruzar oceanos por quem não atravessa a rua por você?"

Aprendendo aos 31 coisas que deveria ter aprendido aos 30.

Cheguei a conclusão, depois de muito tempo, que sempre fui a idiota das relações afetivas – o quesito aqui é entre amigos.
Sempre fui a amiga presente, que aconselha, que acorda de madrugada para atender ligação e ouvir choro desesperado. Aquela amiga que fala para lembrar de respirar quando está tendo uma crise de ansiedade ou de existência, aquela que está sempre ali pra ajudar...
A amiga que está ali ao lado, quando não há ninguém para amparar, aquela que convida pra dividir uma pizza, pra fazer videochamada durante uma viagem, aquela sempre prestativa e parceira.

E também aquela que é fácil de esquecer e descartar quando está tudo bem.

Não recebi um abraço de aniversário de algumas pessoas que mais queria, nem uma ligação ou um áudio de cinco minutos. De um, nem recebi mensagens, mas de outros foram mensagens simples, genéricas, e uma desculpa esfarrapada, do tipo: "Não consegui sair pra te ver, mas quando der eu vou aí.".
Já se passaram dez dias.
Ninguém veio.

Mas eu fui. 
Eu estava lá. Eu larguei compromissos, eu deixei hora de almoço de lado para dirigir 30km para dar um abraço correndo e voltar pro trabalho. Saí cansada do trabalho, depois de passar 12h em pé trabalhando, para dar um abraço. 
Mas, eu fui porque quis. Porque pra mim era importante ir, estar presente.

Sabe, machuca, mas tudo bem.
Dói na hora, dói depois, dói mais uns dias, mas depois... passa. Sempre tem que passar, sempre tem que parar de doer.
Mas é tão triste que, ainda depois de adulto, seja difícil manter uma amizade gostosa com alguém que também é adulto.
E não é cobrança, não é questão de "fazer esperando algo", mas sim reciprocidade.
Algumas pessoas têm. Outras não.
Às vezes, quem dá muita importância e valor somos nós, enquanto pra outra pessoa é só mais uma amizade, e nada demais.
Acho que por tanto tempo fui aquela amiga que sempre mendigou amizade, e fez de tudo para ter o mínimo de afeto por perto, que criei expectativa demais onde deveria ter criado apenas pequenos afetos.
Falhei comigo mesma.

Amizade não se compra.
Amizade não se força.
E depois de ver tantos vídeos falando sobre a mesma coisa, percebi que falhei comigo, me humilhando, me esforçando em prol de alguém que nem se esforça para estar comigo ou me mandar uma mensagem enquanto senta no vaso sanitário.

Então, sim, a gente é descartável sim.
E sorte de quem não é, não é mesmo?
Minha missão agora é cada vez mais fugir de mensagens do tipo: "Oiiii amigaaaa", porque sempre, sempre e sempre vem carregadas de segundas intenções – favores ou trocas, e quase nunca de carinho.

Dói, mas passa, né.
A vida é mais do que isso.
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